Muitas pessoas têm a (errônea) ideia de que um designer de UX (user experience) apenas deixa as coisas mais bonitas. Mas e se eu te disser que isso não é verdade e que o trabalho desse profissional tem até um viés psicológico?
É exatamente isso que Johannes Ippen fala no seu TEDx “Humanos, não usuários: por que UX é um problema”.
Nesse artigo, veremos:
Johannes Ippen é um designer focado em experiência do usuário e atualmente vive em Berlim. Ele acredita que conhecer sobre UX design é, na verdade, entender o mundo ao nosso redor.
Seu TEDx ficou muito famoso por retratar produtos focados na experiência do usuário, no que eles realmente são e não pelo que aparentam ser.
Ou seja, ele não falou apenas coisas bonitas sobre UX design, mas, principalmente, fez sérias críticas sobre os impactos negativos de produtos que buscam apenas a maior aceitação possível dos consumidores no mercado.
O TEDx de Johannes Ippen traz informações sobre UX design que normalmente não são muito veiculadas em canais informativos.
Ele ainda cita que essa técnica é responsável por prejudicar alguns casamentos nos Estados Unidos.
Mas antes de iniciarmos a discussão sobre isso, é importante entender uma coisa: qual é a real função de um designer?
Apesar de esse ser o pensamento de muitas pessoas, a função desse profissional é algo muito além. Um bom designer sabe, por exemplo, que red circles (círculos vermelhos) ativam algo nos usuários que são como um instinto primitivo de sobrevivência.
É a partir dos mais variados tipos de instintos que um designer trabalha com o intuito de transformá-los em produtos desejados e queridos por todas as pessoas.
A ideia principal no design de um produto é criar um vínculo tão grande com o consumidor que ele vai querer usá-lo corriqueiramente, como um hábito. E os hábitos formam experiências.
Pense no Instagram, por exemplo. A disposição de informações nele é tão interessante que hoje ele se tornou parte do hábito de inúmeras pessoas pelo mundo.
Johannes Ippen conhece o impacto que um bom UX design pode trazer, mas também sabe do seu potencial impacto negativo.
A empresa Pricewaterhouse Coopers descobriu em 2018 que 32% de todas as experiências negativas resultaram em pessoas que nunca mais quiseram contato com a marca.
É aí que Johannes cita que o Facebook, o Spotify e o Twitch são dominantes em suas áreas por dominarem o UX design e, assim, saberem entregar a seus usuários uma ótima experiência.
Apesar disso parecer incrível, esse pode ser, na verdade, um grande problema causado pelo UX design.
Os produtos mais focados em UX design na maioria das vezes são serviços. Eles têm metas de conquistar audiências gigantescas e são monetizados por meio de propagandas.
Assim, quanto mais pessoas usam esses produtos por um longo período de tempo, melhor. Na verdade, esses serviços só funcionam se as pessoas os utilizarem.
Para isso, eles usam métricas como retenção, likes e compartilhamentos para determinar o quanto um produto é bom. É o que é chamado de engajamento.
As decisões de UX design são tomadas baseadas nesse engajamento, para conquistar e reter a sua atenção.
Porém, o impacto disso sobre as pessoas é horripilante. Em 2018 ocorreram 800 mil divórcios somente nos EUA, sendo que 33% destes, segundo um estudo britânico, são por culpa direta ou indireta do Facebook.
Isso pode ser atribuído, em partes, às decisões de UX design de dar para as pessoas ferramentas que proporcionam interações completamente transparentes e uma quantidade gigante de informações sobre seus cônjuges, o que resultou em relações infelizes.
Além disso, cada vez mais lemos notícias sobre crianças gastando rios de dinheiro em jogos de celular, ou sobre como produtos, a exemplo da Uber e Airbnb, estão dirigindo a economia. Tudo isso se deve às decisões de design que estas companhias tomaram.
Johannes cita o exemplo do, já não tão recente, símbolo de fogo no Snapchat. Eles obrigavam as pessoas a entrarem na rede social e manterem contato umas com as outras todos os dias para exibir símbolos de fogo em seus nomes. Quanto mais, melhor.
Isso fez com que os usuários levassem a brincadeira a sério demais, demonstrando e enfatizando em excesso as mensagens e os relacionamentos. O que gerou uma sensação de ansiedade e levou ao “medo de ficar de fora”, mais conhecido como FOMO (Fear of Missing Out).
Entendendo isso, percebe-se como grandes empresas focaram suas decisões de UX design para otimizar o uso prolongado dos serviços, porém, subestimaram os impactos que isso teria nas sociedades do futuro.
Assim, criaram produtos que provocam a ansiedade e o fear of missing out. E isso é resultado direto da falta de um pensamento mais amplo.
Como designers, as decisões tomadas são baseadas na jornada do usuário com foco em metas de curto prazo (como mais visualizações), sem se entender o impacto maior que isso implica.
O que se entende é que um dos primeiros passos a serem tomados é mudar o jeito que pensamos sobre UX design, deixando de lado o pensamento focado puramente em engajamento e métricas.
De maneira mais profunda, devemos parar de enxergar os usuários apenas como dados e devemos considerar que do outro lado existe, antes de mais nada, um ser humano.
Precisamos pensar no produto final não somente para quando ele é utilizado, mas também para os impactos que ele pode gerar.
As pessoas têm necessidades, têm desejos, têm propósitos na vida. Então imagine o seu produto sendo projetado para fazer parte disso e não apenas como algo otimizado para UX design.
Johannes conta que eles criaram um aplicativo que ajuda refugiados de guerra com transtornos pós-traumáticos. Eles começaram a trazer essas pessoas para o aplicativo por meio de notificações, para que realizassem seus exercícios.
Porém, em um dado momento optaram por abandonar completamente essa prática. No lugar das notificações, colocaram um grande botão vermelho de emergência na terceira tela do aplicativo.
O objetivo é que o usuário use o aplicativo caso esteja passando por algum tipo de ataque de nervos ou ansiedade. Assim, ele pode entrar no aplicativo e ter acesso imediato a ajuda e a direcionamentos.
Imagine um produto que não precise sempre te puxar de volta, mas sim que esteja lá quando você precisar. Imagine um mundo projetado para humanos e não usuários.
É o momento de parar de pensar em User Experience Design e começar a pensar em Human Experience Design.
Para isso, precisamos começar a basear as decisões de design nos humanos que somos projetados para ser. Ajudando-os a cumprir os seus propósitos na vida e respeitando o seu tempo.
A resposta é sim e a boa notícia é que já existem esforços sendo feitos para corrigir os erros desse UX design viciante.
Um exemplo são os experimentos feitos pelo Facebook e pelo Instagram, retirando a contagem de likes do feed. Retirando-se assim, uma grande fonte de ansiedade por aprovação social.
Além disso, os aplicativos estão permitindo uma desativação temporária das contas, para o caso de o usuário querer fazer um tipo de "detox digital" por algumas horas ou dias.
Mas essas ainda são atitudes pequenas. Johannes fala ainda de um aplicativo de comunicação em que se decidiu por retirar completamente as notificações vermelhas.
Assim, removeu um instinto primitivo e passou a utilizar círculos verdes, promovendo uma experiência mais saudável e focada no momento para o usuário.
Então, o UX design é capaz de criar um impacto positivo se os designers se esforçarem para isto.
Entenda que atenção não é a chave. Veja que o uso massivo não é sustentável. Tente pensar nos seres sendo o que eles são projetados para ser. Mude a sua perspectiva.
Nós queremos viver em um mundo onde o design digital nos sirva. Não onde ele nos faça reféns.
Para isso, é preciso começar a tomar boas decisões de design, pois isso terá impacto no futuro de toda a humanidade.
“O futuro da nossa sociedade está relacionado com decisões sobre design que tomamos hoje.” - Johannes Ippen
Gostou do assunto? Você pode conferir esse TEDx na íntegra abaixo:
Grad. de Engenharia Elêtrica com habilitação em Sistemas de Potência pela UFJF e técnico em Eletromecânica pelo IF Sudeste MG. Possui formação de White Belt em Lean Seis Sigma, Construção de Websites, Linguagem HTML, Padrões W3C, Recursos de Formatação, Marketing de Rede e Excel Intermediário. Foi bolsista como monitor das disciplinas Cálculo I e Análise de Investimentos em Engenharia e Gestão de Obras na UFJF. SEO Funcional Manager e head da equipe de produção de conteúdos na área de Pesquisa e Desenvolvimento do blog da Voitto.
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