Quais são os custos de um alto nível de qualidade?
Como a qualidade impacta os lucros de uma empresa?
O que é Return on Quality (ROQ)?
Calculando o retorno financeiro de um projeto Seis Sigma
As técnicas e fórmulas de Projeto Seis Sigma na prática
Já que você aprendeu sobre Retorno Financeiro, que tal se aprofundar na Gestão Financeira?

Como calcular o Retorno Financeiro de um projeto Seis Sigma?

Aprenda a calcular o Retorno Financeiro dentro de um projeto Seis Sigma e, também, a estipular os impactos financeiros e no nível da qualidade.

Daniel Fraga
Por: Daniel Fraga
Como calcular o Retorno Financeiro de um projeto Seis Sigma?

Já ouviu falar daquela famosa relação "custo-benefício"?

Todos somos consumidores e estamos em busca daquele produto e/ou serviço que atenda nossas necessidades e que, além disso, tenha o nível de qualidade desejado.

Para se manter no mercado moderno e ser capaz de lidar com a alta competitividade, uma empresa precisa fornecer a seus clientes produtos que atendam ou superem as suas expectativas.

A metodologia Seis Sigma é uma excelente forma de se atingir ótimos níveis de qualidade, por meio da eliminação de imperfeições, imprecisões e falhas.

É possível melhorar processos existentes ou até mesmo criar novos produtos já com os padrões de qualidade desejados, os chamados Design for Six Sigma.

Esse artigo abordará:

  • Quais são os custos de um alto nível de qualidade?
  • Como a qualidade impacta nos lucros de uma empresa?
  • Como calcular o impacto financeiro de um projeto Seis Sigma?
  • O que é Return On Quality - ROQ?
  • Como aplicar o Return On Quality?
  • Calculando na prática o Retorno Financeiro de um Projeto Seis Sigma

Saiba as respostas a essas perguntas aqui mesmo.!

Quais são os custos de um alto nível de qualidade?

As grandes empresas estão buscando, cada vez mais, aumentar os seus lucros. Para isso, visam a redução de custos e uma melhor satisfação de seus clientes, ampliando a qualidade de seus processos e, portanto, de seus produtos.

O maior problema é que, muitas vezes, elas acabam gastando dinheiro demais aplicando sistemas de melhoria de qualidade sem, primeiramente, fazer uma análise de sua viabilidade.

Dessa maneira, os retornos e impactos financeiros gerais acabam sendo um mistério, o que é muito perigoso para a saúde financeira de qualquer negócio.

Dessa forma, o conceito de custo da qualidade é definido como: a quantia total que uma empresa precisa investir a fim de melhorar o desempenho de seus processos e adequá-los às exigências dos clientes.

Os custos da qualidade podem ser divididos em três categorias, cada uma com suas características e peculiaridades, sendo elas: prevenção, avaliação e falhas.

Custos preventivos

Esses são todos os gastos relacionados à decisões tomadas e esforços despendidos pela organização para impedir que os produtos apresentem defeitos durante sua produção.

Uma ferramenta que pode auxiliar nesse processo de melhoria é a implementação de controle de processos de produção, um Procedimento Operacional Padrão (POP) é um exemplo bastante eficaz, que traz um baixo custo e um alto impacto positivo nos resultados de uma empresa. A ferramenta ajuda a manter os padrões de qualidade, evitando disparidade e prevenindo má execução de processos.

Custo de avaliação

São os custos relacionados à medição do nível de qualidade do sistema durante seu funcionamento.

Por meio da fiscalização dos produtos, processos ou serviços, procura-se fazer o levantamento de todas as características dos mesmos e verificar se eles atendem a todos os requisitos do projeto.

Auditorias de qualidade são uma forma de gerenciar e avaliar a qualidade esperada de um processo, contudo necessitam de um acompanhamento mais detalhado, podendo assim elevar os custos (então, não sendo uma alternativa tão interessante em primeiro momento).

Custo de falhas

É todo capital necessário para corrigir eventuais falhas ou inconformidades que produtos ou processos apresentam. Nessa categoria de custo é que se pode ter maior margem, já que uma pequena falha pode estar impactando em um alto custo do processo. Esse custo pode ser subdividido em outros dois grupos:

Falhas internas

São os custos relacionados à retificação dos processos, reparo de máquinas ou, ainda, troca de produtos defeituosos antes de sua entrega para o cliente final.

Retrabalho é um exemplo desse custo. Além de ser necessária nova ação sobre um processo ou produto, a produtividade também é prejudicada.

Falhas externas

Esses são os custos que mais impactam na imagem da empresa e, principalmente, na decisão de compra futura de um cliente. As falhas externas são normalmente vivenciadas por eles, que podem criar uma imagem diferente sobre a real qualidade que a empresa é capaz de oferecer.

Dessa forma, essas falhas devem ser resolvidas com a mais alta prioridade para evitar que o consumidor tenha impressões negativas. Um exemplo desse tipo de custo é perdas de clientes. É mais fácil manter um cliente do que conquistar um novo.

Como a qualidade impacta os lucros de uma empresa?

Por meio de análises, medições e aplicações de ferramentas de melhoria da qualidade é possível reduzir despesas de cada uma das categorias de custo de qualidade, obtendo melhores resultados financeiros.

A partir disso, cria-se um indicador muito importante para gestão da qualidade: até quanto é justificável, economicamente, investir na melhoria de processos?

O aumento da qualidade tem influência nos lucros de três formas diferentes:

  • Promove redução de custos: processos passam a ser mais eficientes, com poucas perdas
  • Proporciona melhoria do rendimento: funcionários são mais produtivos, existem menos gargalos e perdas na produção.
  • Possibilita aumento no número de clientes: a qualidade dos produtos permite reter clientes antigos e conquistar novos.

Dessa forma, para que seja viável obter maiores lucros implantando sistemas de qualidade, é preciso separar o que não é de interesse para uma empresa do que é relevante para ela.

Por isso, os custos da qualidade são tão importantes: eles permitem o levantamento desses dados. Os clientes se preocupam com algumas coisas e com outras, não. Assim, a melhoria da qualidade em alguns pontos é mais efetiva do que em outros.

Portanto, isso se torna um grande desafio para os gestores da qualidade (sejam eles Green Belts ou Black Belts), que precisam descobrir quais são os aspectos da qualidade que devem ser trabalhados alocando recursos e quais não.

O que é Return on Quality (ROQ)?

O retorno da qualidade - do inglês Return on Quality (ROQ) -, é uma ferramenta capaz de identificar, entre os projetos de melhoria da qualidade, aqueles que são mais plausíveis de serem aplicados, reduzindo falhas internas e externas, aumentando a receita da empresa.

Desse modo, a ferramenta otimiza o processo e ataca qual a falha com menor custo de correção e maior retorno financeiro estimado.

Como aplicar o Return on Quality (ROQ)

A aplicação de sistemas para retorno na qualidade envolvem prática de cinco passos:

  • Passo 1: Reunir informações fundamentais - por meio de pesquisas de mercado e dados de clientes
  • Passo 2: Identificação de oportunidades - estimar valor presente líquido e fatia de mercado em um gráfico temporal
  • Passo 3: Testes de melhoramentos - promover testes limitados de algumas amostras do produto em locais específicos ou com um certo número de consumidores
  • Passo 4: Projeto Financeiro - usar os resultados do teste de mercado do passo anterior, sendo possível estimar com maior precisão o retorno na qualidade, o valor presente líquido e a parcela de mercado
  • Passo 5: Lançar a melhoria na qualidade - esse passo só deve ser realizado após todas as análises e procedimentos de viabilidade dos passos anteriores.

O ROQ permite aproximar a viabilidade econômica das melhorias em qualidade a serem implantadas em um produto ou processo.

Geralmente, a redução do número de defeitos leva à redução de custos de retrabalho com processos ineficientes. Porém, para que isso seja possível, são necessários investimentos ou custos na qualidade.

Dessa maneira, a lucratividade da empresa é aumentada se os rendimentos obtidos com os projetos de qualidade forem superiores ao investimento feito para aplicação da mesma. Sendo assim, como é possível calcular o retorno financeiro de um projeto Seis Sigma?

Calculando o retorno financeiro de um projeto Seis Sigma

Basicamente, para o cálculo de retorno financeiro é preciso fazer uma análise matemática do fluxo de caixa. Isso é, apurar as finanças empresariais, buscando verificar se há um saldo positivo devido à aplicações monetárias no quesito qualidade.

A análise da viabilidade de um projeto deve ser feita a partir de duas premissas: técnicas e econômicas.

Viabilidade Técnica

Para levantar uma análise financeira completa de um projeto é preciso realizar uma validação dos procedimentos de engenharia, equipamentos, ferramentas e máquinas disponíveis.

Portanto, caso não estejam acessíveis esses recursos técnicos, é necessário aquisição dos mesmos. Assim, o projeto não está viável tecnicamente e sua compra impacta os cofres empresariais.

Equipamentos disponíveis e prontos para o uso retratam um projeto mais viável tecnicamente.

Viabilidade Econômica

A viabilidade econômica está relacionado ao ganho que a empresa terá ao implementar um projeto. Como dito antes, um projeto viável é aquele que "paga" o investimento, ou seja, as melhorias superam os custos da qualidade.

A análise de um projeto economicamente viável pode ser fragmentada em dois tipos de critérios:

  • Científicos: levam em conta a variação do valor do dinheiro no tempo. Alguns exemplos são: valor atual líquido, taxa interna de retorno e relação de custo-benefício.
  • Empíricos: critérios não científicos, baseados em experiências e observações. Eles não levam em conta a variação do dinheiro ao longo do tempo. O tempo interno de retorno é um exemplo.

Nesse artigo, vamos te apresentar apenas os critérios científicos para cálculo de retorno financeiro, por serem mais assertivos e confiáveis. Os critérios empíricos são mais específicos e difíceis de serem aplicados de forma geral.

Taxa de Investimento ( i )

Também chamada de "taxa mínima de atratividade" ou ainda "custo de capital", a taxa de investimento é a mínima riqueza necessária para remunerar a aplicação financeira de um negócio.

Um investidor levanta essa taxa de acordo com alguns princípios, entre eles:

  • Os juros financeiros de aplicação de mercado
  • Rendimento de organização
  • Fator de risco do negócio.

Fluxo de Caixa

O fluxo de caixa caracteriza, de maneira simples, as entradas e saídas financeiras de um negócio. Sua representação gráfica pode ser feita da seguinte forma:

Fluxo de caixa


As setas para cima representam as entradas de recursos em um sistema, portanto são valores positivos. Da mesma maneira, as setas para baixo representam suas saídas do sistema, portanto, são valores negativos.

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Valor atual líquido ( VAL )

O valor presente líquido ou ainda, valor presente líquido (VPL) é o cálculo que representa, de forma básica, o quanto seu dinheiro vale hoje, a partir de fluxo de caixas futuros aplicados a uma taxa de investimento especificada.

Dessa forma, o VAL permite fazer uma análise de um capital inicial aplicado a um projeto, permitindo levantar a viabilidade do mesmo, com relação ao investimento.

Assim, se o valor atual líquido de um projeto possui um valor positivo, maior que seu custo, pode-se afirmar que o projeto é viável.

A expressão matemática do valor atual líquido, para fluxos iguais, é dada por:

VAL = k = 0k = n Vk (1+i)k

No qual:

  • VAL = Valor atual líquido
  • n= número de período de aplicados
  • Vk = os valores envolvidos em cada período de aplicação
  • i = taxa de investimento

A partir da resolução da equação acima, pode-se chegar a três conclusões distintas:

  • VAL > 0, projeto viável, gera lucro para o negócio
  • VAL < 0, projeto inviável, causa prejuízo ao negócio
  • VAL = 0, projeto não gera lucro nem prejuízo para o negócio

Taxa Interna de Retorno (TIR)

A TIR, ou Taxa Interna de Retorno, é definida como o valor de retorno percentual em relação ao capital investido em um projeto.

Matematicamente, o TIR é definido como a taxa de investimento ( i ) que faz com que o Valor Atual Líquido de um projeto seja igual a zero.

Dessa forma, é possível saber a viabilidade do investimento em relação a seu custo de capital.

A equação matemática para o cálculo da Taxa Interna de Retorno é dada por:

0 = k = 0k = n Vk(1+i)k


A partir da sua solução da equação acima, assim como no VAL, é possível chegar a três conclusões distintas:

  • TIR > i, projeto viável, investimento causa benefício, o retorno é maior que o investido
  • TIR < i , projeto inviável, investimento causa prejuízo. O retorno é menor que o investido
  • TIR = i , projeto não gera lucro nem prejuízo para o negócio

As técnicas e fórmulas de Projeto Seis Sigma na prática

Bom, agora que já estruturamos todas as informações e teorias, vamos finalizar nossa aula de matemática com um exemplo. Assim, você vai entender melhor como essas técnicas e fórmulas estruturam o cálculo do Retorno Financeiro de um Projeto Seis Sigma.

Exemplo de aplicação

Uma empresa visa aplicar um projeto Seis Sigma para aumentar a eficiência e qualidade de sua produção de peças. Para isso, ela investiu R$187.500,00 em processos de melhoria.

Após um estudo da demanda do mercado, o gestor estimou um número de vendas para os próximos dois anos de 53.535 peças, com uma taxa mínima atrativa de 8,71%.

Sabendo que o preço de cada peça produzida é R$ 52,35 e seus gastos com material e mão de obra são, respectivamente, R$31,65 e R$18,50.

Faça o cálculo da viabilidade da aplicação desse projeto.

Solução

Passo 1:

Calcular a receita líquida do projeto durante os dois anos de aplicação do produto:

Receita Líquida = 53.535 (52,35 - 32,50 - 16,50 )

Receita Líquida= 117.777

Passo 2:

Montar o diagrama de fluxo de caixa da aplicação:

Fluxo de caixa da aplicação

Passo 3:

Calcular o valor atual líquido e taxa interna de retorno do projeto.

Temos um período de 2 anos, aplicados a uma taxa de 8,71% com uma receita R$117.777,00 em cada um. Dessa forma, nossas variáveis recebem os seguintes valores:

  • n = 2
  • i = 0,0871
  • Vk = 117777 para k > 0
  • Vk = 187500 para k = 0 (como esse é o investimento inicial, seu valor é negativo, como pode ser observado no gráfico do fluxo de caixa)

Portanto, substituindo as variáveis na fórmula, temos:

VAL = k = 0k = 2Vk (1+0,0871)k

0 = k = 0k = 2 Vk(1+ i )k

Passo 4:

Para facilitar nossos cálculos vamos usar duas funções do Excel, VAL e do TIR:

  • VPL: Calcula o valor atual líquido ou valor presente líquido
  • TIR: Calcula a taxa interna de retorno

Para usar as funções, crie uma tabela como a que segue abaixo, contendo o investimento inicial (saldo negativo) e as receitas do fluxo de caixa:

  • Para usar a função VPL, selecione primeiramente a taxa de investimento em seu valor nominal (assim como na tabela), e os demais fluxos de caixa e em uma célula digite: =VPL (taxa de desconto investimento inicial receita 1º ano receita 1º ano)
  • Para usar a função TIR, selecione apenas os valores dos fluxos, não selecione a taxa de investimento da tabela e digite em uma célula: =TIR (selecione os valores do investimento inicial até a última receita do fluxo de caixa)

Após fazer todos os cálculos, é possível concluir que a aplicação de investimentos de melhoria é viável para a empresa, pois valor presente líquido (R$18858,14) é maior do que zero e a taxa interna de retorno (17%) é maior que a taxa de aplicação do investimento.

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Daniel Fraga

Daniel Fraga

Engenheiro de Produção pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), possui MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (escola IBS/FGV), certificação como MBTI Practicioner e certificação Master Black Belt Lean Seis Sigma desde 2008. Atua como consultor de melhoria contínua pelas consultorias Werkema e Voitto e como especialista em Sistema de Produção pela thyssenkrupp CSA, onde desenvolve trabalhos de gestão da rotina e coordena os programas Lean e Seis Sigma.

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